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terça-feira, 22 de março de 2011

Comunidade brasileira no Japão se mobiliza para ajudar vítimas

Cerca de 600 cobertores e edredons já foram arrecadados na Província de Shizuoka

BBC Brasil




Após o terremoto e o tsunami do último dia 11 de março, que devastou a região nordeste do Japão, e a constante ameaça nuclear, alguns brasileiros no país marcaram passagem para voltar ao Brasil o mais rápido possível. Mas muitos outros resolveram arregaçar as mangas e ajudar as vítimas.

Tetsuyoshi Kodama, vice-presidente da Aliança de Intercâmbio Brasil-Japão, e Hideiti Omori mobilizaram a comunidade onde vivem, na Província de Shizuoka (sudeste do país), para arrecadar cobertores e edredons.

À BBC Brasil, Kodama revelou a quantidade levantada até agora.

- Em quatro dias arrecadamos cerca de 600 peças.

O material foi levado à sede da Associação dos Voluntários de Shizuoka, onde será separado, dividido e enviado imediatamente às vítimas.

Kodama explicou que, no Japão, o esquema de ajuda é muito organizado.

- Fiquei sabendo de grupos que organizaram coleta de alimentos e tentaram levar para as regiões mais atingidas pelo tsunami e não conseguiram completar a missão.

Organização

O país aprendeu a lição de organização após o grande terremoto de Kobe, em janeiro de 1995. A psicóloga Neusa Miyata, da organização sem fins lucrativos Disque Saúde, explica como o Japão se estruturou desde aquele tremor.

- Desde então, cada Província é responsável por um setor básico em caso de calamidade pública.

No caso desta tragédia, as Províncias de Shizuoka e Aichi, por exemplo, só recolheram cobertores e edredons. Mas Kodama avalia que esse tipo de iniciativa é a mais eficaz.

- Num primeiro momento, pareceu, aos olhos dos estrangeiros, que a reação dos japoneses foi lenta. Mas eles estavam se organizando para escolher a melhor estratégia.

Neusa, que desde o dia 11 está de plantão 24 horas para atender brasileiros com algum problema emocional, concorda.

- Tudo o que faltou em Kobe está sendo feito desta vez. Em poucos dias, por exemplo, já havia alimentos quentes e remédios nos abrigos. Tem muita gente com boa intenção, mas as pessoas têm de ajudar com mais consciência.

Hidekichi Hashimoto, da ONG ABC Japan, também começou a se movimentar para juntar voluntários que possam atuar numa segunda etapa dos trabalhos de ajuda humanitária.

- Queremos, principalmente, levar um pouco da alegria dos brasileiros para os japoneses que vivem em abrigos.

Além de entretenimento, o grupo pretende levar profissionais da área médica para dar apoio às equipes japonesas.

- Nestas horas, temos de pensar em todos e não apenas nos conterrâneos, como sugeriram alguns grupos.

Tetsuyoshi Kodama pensa da mesma forma.

- Nessa campanha, pude ver de perto a solidariedade dos brasileiros e japoneses, todos trabalhando em prol das vítimas, independente da nacionalidade. Isso me fez ter a certeza de que o Japão vai superar mais esse desafio.

Sobreviventes

Enquanto a ajuda não para de chegar à região mais atingida pelo terremoto e pelo tsunami, a esperança de encontrar mais sobreviventes foi renovada com o resgate de Sumi Abe, de 80 anos, e o neto Jin Abe, de 16, transmitido ao vivo pela tevê japonesa.

Avó e neto ficaram nove dias presos sob escombros do que restou da casa, na cidade de Ishinomaki, na Província de Miyagi (nordeste do país), desde que o forte terremoto e o tsunami devastaram a região nordeste do Japão e deixaram o país sob risco de contaminação nuclear.

Os dois estavam na cozinha, construída no segundo andar da casa, quando a onda gigante chegou. Eles sobreviveram todos estes dias comendo os restos que estavam na geladeira. Beberam iogurte e refrigerante, e suportaram o frio enrolados em acolchoados e roupas.

Foram achados graças a uma ligação que Jin fez ao pai, dizendo que estava preso com a avó sob os escombros. O resgate demorou porque os bombeiros não achavam a casa, deslocada 100 metros pela onda.

Jin foi retirado primeiro. Quando Sumi foi salva, exausta, caiu em prantos quando o bombeiro disse que "ela não precisa se preocupar mais".

No caminho para o hospital, o bombeiro perguntou a Jin o que ele gostaria de ser no futuro. 'Artista', respondeu sorrindo.

O adolescente não se lembra de detalhes destes nove dias. Lembra que não dava para se mexer, por falta de espaço. Passou cobertor e comida para a avó e ambos não deixavam a esperança acabar.

O pai de Jin disse à imprensa que a avó só sobreviveu graças ao filho.

- Ele é um jovem de poucas palavras, mas com um grande coração.

Muitos desaparecidos

As buscas ainda continuam na região de Miyagi, Iwate e Fukushima, províncias mais afetadas pela onda gigante.

Segundo o último levantamento, o número oficial de mortos passa dos 8.600 mil e desaparecidos chega a 13 mil.

Mas as autoridades já admitem que o número de mortos deve ultrapassar os 20 mil, já que somente na Província de Miyagi (nordeste do Japão) há uma previsão local de 15 mil mortos.

Os crematórios estão lotados, a espera de combustível para dar conta de tantos corpos.

Perto de 900 mil casas continuam sem água e mais de 350 mil pessoas vivem em abrigos montados pelo governo.

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