Do sistema que transportava turistas restaram só cabos retorcidos.Hotel e restaurante mirante estão comprometidos; estação sumiu.

Quando estava em pleno funcionamento, o teleférico pegava passageiros logo à frente da Praça do Suspiro. Em sites de turismo, comentários sobre a emoção de “flutuar” sob os cabos do teleférico de Friburgo dão uma dimensão da experiência. Dona Cassinha, de 47 anos, registrou em julho de 2007 o passeio que fez com a família: “Quando digo que o teleférico de Friburgo é o mais emocionante que já andei, não estou exagerando. As enormes bromélias grudadas nas rochas que mais parecem esculturas, as aves que circulam pelas árvores, isso sem falar na paisagem que avistamos do alto. É simplesmente sensacional! Aliás, estou indo para lá novamente”.
Do local descrito no depoimento, depois que a chuva passou, apenas algumas “bromélias que mais parecem esculturas” ainda permanecem grudadas nas rochas. As aves também estão pelo morro, mas já não existem árvores no caminho dos cabos. A avalanche abriu uma clareira deixando à beira do abismo o hotel que há no topo do morro. O restaurante mirante também ficou comprometido. A estação que contava com tobogã, boliche, jogos eletrônicos e lanchonetes sumiu. As cadeiras do teleférico ainda podem ser vistas penduradas em áreas onde os cabos não foram derrubados.

Também construída perto da praça, a Igreja de Santo Antônio, erguida no século 19 e igualmente visitada por turistas, agora está entupida de lama e com dois carros próximos ao altar. Na área de vegetação que ainda permanece de pé, algumas casas têm moradores que insistem em permanecer no local. Carros estão ilhados na parte mais alta do morro e olhando toda a destruição causada pela enxurrada é difícil prever se um dia eles sairão de lá.
'Dá pra continuar vivendo', diz morador
João Luiz Herdy, de 51 anos, foi morar no morro do teleférico em 1979. A água passou à esquerda da casa onde ele vive, num conjunto de barracos que abrigam outras cinco famílias: “A água passou levando tudo, mas aqui ainda está firme. Dá para continuar vivendo até que abram a estrada de novo”.
Na sexta, Herdy ainda removia um monte de terra que desceu da casa ao lado, onde mora Luiza Assis Nascimento, de 44 anos. Para chegar ao local, ambos tiveram de enfrentar a lama e os galhos de árvore caídos pelo caminho. “Coloquei meu tênis e uma meia bem grande e vim. A gente tem que limpar tudo para voltar o quanto antes. Não dá para deixar a casa sozinha porque podem levar o pouco que a gente tem”, diz Luiza. A casa dela tem água canalizada de uma nascente do morro e a luz foi improvisada por um “gato”, que também abastece a casa de Herdy.
Apesar da aparente tranquilidade de ambos, o topo do morro ameaça descer levando junto o hotel e toda a estrutura turística que havia no local. Uma cachoeira se formou, revelando a quantidade de água que ainda escorre do morro. Máquinas trabalham na remoção da lama que cobriu a praça, mas a prefeitura não tem como prever quando o local voltará a ser transitável.

Fonte: Portal G1
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